sábado, 6 de setembro de 2008

7 de Setembro



Mas pra onde é que se marcha?

Sigo na cadência ríspida dos passos em coturnos

Mas pra onde é que se marcha?

É pra frente que a tropa marcha, em sincronia e disciplina,

É pra trás que a vejo, e pra onde meu olhar se dirige, acompanhando-a,

Nesse eterno retrocesso.

Na platéia, que assiste a tudo, sem entender o porquê de nada,

Há um misto de contentamento e tédio.

E o sol, sol forte, não traz nos raios cintilantes a sonhada liberdade.

Nada é como no hino...

Mas pra onde é que se marcha?

E quem é que lidera as tropas?

Quem são esses soldados, que seguem obedecendo... a marcha?

São meninos esfaimados, mulheres raquíticas,

Homens envelhecidos pelo descaso e pela dor.

São obedientes soldados,

Que já não podem lutar.

Quantos passos já terão dado em direção a seu fim?

Quantas vezes, obedecendo estupidamente aos seus superiores,

Eles retrocederam?

Pra onde é que marcham?

Acaso marcham rumo à liberdade? À sonhada independência?

Receio que o trajeto desses pés calejados pelos coturnos da opressão

Os conduza ao covil do inimigo,

Os conduza a perpetuar seu estado de torpor.

Para eles, o marchar já é um ato mecânico,

E o cansaço os impede de pensar sobre qual seja seu destino.

Pra onde é que se marcha?

É justamente por conhecer a resposta a essa pergunta,

Que escolho marchar pro lado contrário ao das tropas,

Ainda que essas venham por sobre meus ideais,

Com seus fuzis e toda força forjada...

Eu escolho marchar a marcha dos contrários,

E o convido a me acompanhar,

A compactuar comigo desse meu constante estado de revolta,

A recusar-se a acompanhar as marchas,

Que seguem perpetuando mentiras.

E aí talvez juntos, encontremos uma resposta:

Pra onde é que marchamos?