quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Amarelo era vida sendo tomada pelo amarelo as ruas, calçadas, meus passos todos conduzidos pelo amarelo deixando-se deleitar por essa visão extasiante do amarelo e eu que não sabia nada de flores, apesar de amá-las desde sempre, compreendi pelo amarelo que o amor é mesmo assim: incompreensivelmente necessário como os ipês e belo e arrebatador como o amarelo um amarelo de fazer doer os olhos, os olhos hipnotizados pela força doce da natureza que não cessa de se nos oferecer: graça pura!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

REAL

Desconheço os filtros da realidade e me permito atribuir distintos significados a tudo, a tudo quanto vejo, sinto, cheiro, esbarro, e até imagino. Eu possuo um léxico próprio, e ele violenta o original e a mente daqueles que não compartilham dessa minha esquizofrenia linguística. Eu duvido do real, prezo pelo imaginável, suponho e assumo como verdadeiro o signo que eu mesma inventei. Eu vejo coisas monstruosamente belas, esplendorosamente feias, finjo ver, me engano, desengano as almas secas, irrigo o solo da vaidade com meu sangue espesso. Esqueço das horas que perdi em poemas, que nunca ninguém lerá desejo olhos e corações famintos... Encontro sequidão. -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O moço que amava a poetisa

Por que é que aquele moço não entendia Que somos todos linguagem e era ele quem nela escrevia ruborizando sua pele alva que o tato despudoradamente invadia com a tinta do desejo, ensejo de agonia? Que o amor é mesmo isso, uma história, contata e recontada entre suspiros e poesia. É um escrevendo no outro aquilo que a alma lhes anuncia: Ah, o amor... o amor é covardia!
E eu permaneci ali, absorta pelo céu que se abria sobre meus olhos assustados e calmos, um céu de nuvens multi desenháveis, formas múltiplas formando-se e sumindo sem que o menro sinal de vento surgisse. Elas vinham, fantasmas gloriosos e era logo que se iam, sem que nem ao menos um sinal delas ficasse registrado em minha memória. Ah, mas eram lindas, e isso só pelo fato de existirem em meu céu, minha mente esdrúxua. Eu as criara? Ou eram elas as criadoras de todo esse meu estado delirante? Foram horas ou segundos de prazer e agonia, não sei... O êxtase é o mesmo ainda agora, enquanto contemplo com olhos famintos as cicatrizes que elas me deixaram na pele e o sangue seco no lençol.

quarta-feira, 14 de março de 2012

A POESIA

Ela está em toda parte,
Entretanto é só a ele, que ela dirige seus olhares mais furtivos.

O poeta sofre dessa esquizofrenia chamada Poesia,
E ela rouba-lhe noites de sono,
criatura travessa que é,
entre o manifestar-se de um verso e outro.

Ela suscita nele as dores mais agudas,
e também os maiores gozos,
Quando lhe traz à memória da consciência, os crimes todos que ele nem ainda cometeu,
Ou quando forja nos lábios da amante,
palavras que nunca serão proferidas...

E o marginaliza, fazendo-o refém de suas próprias vontades,
Logo ele, que, pretensiosamente, considera-se autor de seus devaneios,
Se entrega feito menino, submetendo-se aos desdéns de sua Senhora.

Sim, porque ela, irresistivelmente bela e intempestiva,
embebece os moços,
mas apenas aqueles em quem ainda resta alguma alma.

E cheia de horror e beleza,
supera os limites da própria alma,
escandalizando as multidões de medíocres,
cegos ou lúcidos demais para notá-la.

Talvez lhes falte a esquizofrenia do poeta,
seus medos,
seu ódio,
essas vozes todas de rimas, que, invadindo os ouvidos,
não deixam a mão em paz.

E só então,
ela repousa exausta,
palavra por palavra no papel,
essa libertina,
chamada Poesia.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"ESTRUPO" NACIONAL





Enquanto, novamente, milhares de famílias sofrem o drama das enchentes, há quem se preocupe com os ridículos acontecimentos de uma porcaria que nem deveria ser chamada de programa de TV.
Nessas horas, chego a pensar que o brasileiro merece o que tem, os políticos que tem, a TV que tem, a educação e sobretudo, o que não tem.
Não tem uma TV que ofereça conteúdo, porque me desculpem, mas pra quem curte cenas do tipo já inventaram canais mais apropriados.
E quem é que ganha com isso?
A grande preocupação nacional é se a distinta participante consentiu ou não com o ato sexual, se ela estava dormindo ou bêbada. Ah, sinceramente... Ninguém está preocupado com a violência real a que muitas mulheres ainda são submetidas, e não me refiro aqui somente à violência física, não. Ninguém está preocupado com a mãe que ficou desabrigada depois das chuvas por conta da incompetência das autoridades. Ninguém está preocupado comigo ou com você, que trabalhamos feito escravos pra encher as burras desse nosso governo corrupto. Ninguém está preocupado com o estado terminal da saúde pública, ninguém. Assim como ninguém está preocupado com a educação.
E sabe por quê? Porque você e eu não nos encaixamos nos papéis patéticos de ventrílocos da poderosa Rede Globo. Talvez, você, leitor, não seja tão sarado e você, leitora, se preocupe mais com seu cérebro que com sua bunda e ambos não aceitariam se expor de forma tão baixa em rede nacional.
Eu me sinto enojada ao perceber que uma enorme maioria dos meus compatriotas seja tão alienada a ponto de fazer de um programa como esse, desse nível, um fenômeno de audiência.
Pra mim, entretenimento, é outra coisa.
Talvez seja a nação quem esteja dormindo, inconsciente, bêbada, entorpecida por essa droga chamada televisão brasileira. Uma nação toda estuprada. Estupro em massa. Será? Ou há gente consentindo?
Circo, sempre o circo, porque até o pão tem faltado. O circo romano reformulado, muito mais sexualmente apelativo.
Peço desculpas,gostaria mesmo de tê-los poupado desse desabafo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Chuva

a chuva me envolve em seu mantra
me convida ao sono
aquele mesmo que sempre me incitam
as lágrimas do santos

Caminhos

Cada vez mais desapegada às instituições,
às religiões,
eu sigo o caminho dos maltrapilhos.

Capenga desde sempre,
mas repleto de sorrisos,cicatrizes e compaixão.

Não me cobro, nem me encubro com capa pútrida de santidade,
caminho com os homens e com seu desejo de viver o amor.

Nas ruas, onde o Caminho também caminha,
por entre pedras e desamor,
ódio, rejeição, marginalidade.

Eu e Ele estamos à margem da Lei e do Ódio que ela incita.

Somos um, com todos.

A pergunta

A mim não é incomum que algum amigo pergunte:
O que está fazendo de bom?
E ouça como resposta: POESIA.

Dentre as inúmeras respostas possíveis, essa parece ser meio... entediante?
Desconsertante...?

Isso é muito relativo ao interlocutor.

A sincronia de almas talvez permita ver, a essa resposta,
com algum agrado,
caso contrário... seria eu uma desocupada? Bitolada? Ausente do mundo e de suas urgências?

Ah, os meus amigos, os de e da alma, entendem,
urgente pra mim, sempre foi a Poesia.

DOMINGO

Queria um domingo menos sangrento,
De flores no lugar de ansiedade,
De música e riso espontâneos,
De poesia e pouca maldade,
De sono e paz.
Queria um domingo de passeios se hora pra voltar,
De descompromisso e alegria sinceros,
De amor e pouco medo.
Queria um domingo de pés descalços,
Roupas largas, de alma liberta.
Queria um domingo de desejos realizados,
Daqueles que somos impedidos de realizar nos outros dias da semana.
Queria um domingo cheio de vida,
E nenhum tédio.
De lasanha e sobremesa, sem nenhuma culpa.
Queria um domingo preguiçoso,
Relapso, gostoso de viver.
Queria um domingo sem o erro da obrigação da igreja,
Queria ser eu a igreja todos os dias da semana,
Como de fato Ele nos propôs.
Queria um domingo sem a eminência da segunda...
É, o quase impossível sempre me atraiu.

domingo, 8 de janeiro de 2012

ternura

É preciso ternura pra enfrentar os dias maus e os bons
E na mesma medida nos dois, ilimitada.
Só a ternura já basta para tornar a vida menos corrosiva
e os homens, menos indiferentes.
É ela quem dá brilho aos olhos e algum sossego ao coração.
Quando o mundo tritura meus sonhos feito moinho,
e Cartola, sábio, tinha razão,
eu respondo com a ternura,
de quem continua insistindo em sonhar com os pés no chão.