quarta-feira, 14 de março de 2012

A POESIA

Ela está em toda parte,
Entretanto é só a ele, que ela dirige seus olhares mais furtivos.

O poeta sofre dessa esquizofrenia chamada Poesia,
E ela rouba-lhe noites de sono,
criatura travessa que é,
entre o manifestar-se de um verso e outro.

Ela suscita nele as dores mais agudas,
e também os maiores gozos,
Quando lhe traz à memória da consciência, os crimes todos que ele nem ainda cometeu,
Ou quando forja nos lábios da amante,
palavras que nunca serão proferidas...

E o marginaliza, fazendo-o refém de suas próprias vontades,
Logo ele, que, pretensiosamente, considera-se autor de seus devaneios,
Se entrega feito menino, submetendo-se aos desdéns de sua Senhora.

Sim, porque ela, irresistivelmente bela e intempestiva,
embebece os moços,
mas apenas aqueles em quem ainda resta alguma alma.

E cheia de horror e beleza,
supera os limites da própria alma,
escandalizando as multidões de medíocres,
cegos ou lúcidos demais para notá-la.

Talvez lhes falte a esquizofrenia do poeta,
seus medos,
seu ódio,
essas vozes todas de rimas, que, invadindo os ouvidos,
não deixam a mão em paz.

E só então,
ela repousa exausta,
palavra por palavra no papel,
essa libertina,
chamada Poesia.