quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ELE ESTÁ AQUI!


“A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel, que significa ‘Deus conosco’”.
Mateus 1:23


Não, não se engane ou deixe iludir pelas luzes que sugerem o consumismo exacerbado nessas noites de tumulto no centro da cidade. O Natal definitivamente não é isso!
O Natal está em toda parte, e eu consigo até mesmo sentir seu cheiro. Ou melhor seria dizer, seu perfume. Ele está entre nós, e seu perfume, impregnando nossas narinas tão habituadas à poluição. Ele é o Natal em seu cerne. E cada lampadazinha, idealizada para a ostentação dessa época de suposta fartura e celebração do consumismo, está na verdade, anunciando sua chegada. Cada homem travestido de bom velhinho, cada bala distribuída, cada toalha com tema natalino, cada rena, cada sino e a cada anjo, espalhados ao redor do mundo, não anunciam outra verdade, se não esta: Jesus está no meio de nós! O amor de Deus se fez carne e passeia em meio a transeuntes agitados e preocupados com suas sacolas de presentes. O amor de Deus, definitivamente nos alcança, através da pessoa de seu filho, que sendo Deus se fez homem, ousando experimentar na própria carne nossas dores, e no espírito, nossas angústias.
Ele está entre nós! A salvação de Deus caminha em meio à multidão, oferecendo-lhe graça, perdão ilimitado e amor incondicional. O menino Deus optou por nascer em um local fétido, cercado por animais, na mais completa simplicidade e pobreza. Isso porque sua missão era clara: Ele veio para servir e não para ser servido. Jesus era consciente de sua missão, e sua missão não era outra, se não agradar ao Pai.
Ele não se preocupava em agradar as pessoas, em parecer gentil ou aceitável, não, Ele não fazia esforço algum para pertencer a qualquer grupo social. Ele queria, desejava ardentemente agradar ao Pai e, tão somente isso. E foi movido por essa consciência tão plena a respeito de si próprio, que Ele, o Deus-homem se entregou à morte na cruz.
O Natal não é absolutamente outra coisa, a não ser a celebração do amor ilimitado e incondicional de Deus.
Ele está aqui!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

PRESENÇA

Eu sei onde estou
É bem aqui, você pode ver?

Sentada no sofá da sala, cabelos presos, vestido indiano,
solto, largo, leve
Uma agenda na mão, o barulho da TV ligada não sei pra quem,
As cores das imagens projetando-se vez por outra na parede
E uma vontade imensa de macular o papel com a caneta.

Uma vontade imensa de fingir não saber das dores, das angústias, do mal...
Uma saudade absurdamente profunda daquilo tudo que não vivi.

Eu não estou aqui,
minha alma inquieta, andarilha, não cabe nessa sala,
nem no abandono que esta noite propõe.

Eu estou aí
E você já deve ter sentido meu perfume anunciando
minha doce e forte:
PRESENÇA.

Aqui e lá

Velhos, crianças e mulheres,
Homens, civis e militares,
Carne, alma e sonhos
o são em qualquer parte.

Aqui, no Haiti,
A vida é sempre vida,
sempre banalizada.

A dor sempre dói,
O ódio separa,
A ganância mortifica.

A guerra, a paz,
O caos e o paraíso
o são em qualquer parte.

Aqui ou no Haiti,
só o amor reconstrói.

mEdO

Depois de tanto medo
Depois de tantas lições diárias de medo
Frações de medo
A imposição do medo...

Só consigo chegar a uma conclusão:
Ando com medo de sentir medo.

Tempo?

A pressa da vida
atropela minha poesia

E é por isso que eu destoo dos relógios,
é por isso que os odeio.

Se eu digo: É hora de dedicar-me a um amigo.
Eles dizem: Não, há tanto para fazer ainda...

Se eu digo: É hora de exercitar a delícia do ócio!
Eles me acusam: Preguiçosa!

Se eu digo: É hora de partir.
Eles dizem: Fica.

Se eu digo: É hora de amar.
Eles dizem: Já é tarde.

E ainda supõem me enganar assim...
Ah, coitados! Esses servos das convenções...

Meu tempo, eu crio, uso, divido como e com quem me apetece.

Eu não uso algemas!

ENIGMA

São só hipóteses...
Quem é que me conhece?
Quem tentaria ousar me conhecer?

Não, tarefa árdua demais,
Só leviandade dizer uma coisa dessas.

Acaso você ousaria conhecer o caos?
E a calmaria do lago que repousa no meio dele?

Ousaria?

Então, por que não me olha nos olhos?

Ela

O que ela esconde?
O que a faz menos sisuda?
Quantos sorrisos ela é capaz de disparar ao longo do dia?
A quem ela os direciona?
Ela chora?
Como é que ficam seus olhos quando ela chora?
Ela se defende? É triste?
Ela finge, insinua, engana?
Ela ama?

sábado, 3 de julho de 2010

As marcas do amor

Dizem: “o amor deixa marcas”, e o dizem bem, mas há que se fazer uma distinção aqui: essas marcas podem ser boas ou extremamente dolorosas.
Há quem diga que quando são assim dolorosas, assemelham-se a feridas profundas, sempre abertas, e nem mesmo o tempo é capaz de cicatrizá-las.
Quase sempre o amor está associado à dor, como se a existência de um dependesse da do outro. É como se a dor fosse um parasita, a alimentar-se do amor, ou seria o contrário?
A dor incomoda, aborrece, machuca, impacienta... Talvez por isso, quase sempre evitamo-la, esquivamo-nos dela, combatemo-la.
Ah, mas ela é tão necessária!
Talvez você nem desconfie, meu querido, mas ela, até mesmo ela está sob meu controle e posso usá-la, convertendo-a sempre para o seu bem.
Ainda me lembro como se fosse hoje do dia em que você experimentou a dor pela primeira vez, eu estava lá, na luz que feriu seus olhinhos recém-abertos. E que choro você chorou, hein, filhinho! Que fôlego!
E o dia em que foi aprender a andar de bicicleta, ah, e pela primeira vez sem rodinhas... Eu o segurava, dirigindo-o, mas não, não evitei seus tombos, assoprei seus joelhos ralados. E quantas vezes mais depois dessa você os ralou, hein... É, você teve uma infância agitada!
Na adolescência, quanta dor! Quantas dúvidas e quantos temores te cercaram. Algumas desilusões também... Não, minha querida, aquele moço não é pra você, estou separando um melhor...
Mas seu coraçãozinho doía, machucado que estava. Eu podia sentir sua tristeza, mas não a evitei. E como você cresceu e aprendeu com ela! Sinto-me orgulhoso!
Já na vida adulta, parece mesmo que as dores se acumulam, não é, filhinho? Desculpe, sei que você não gosta que o chame assim, afinal, já é homem feito (feito a minha imagem e semelhança), mas para mim, você o sabe bem, será sempre um menino.
Tantas dores, meu amado, físicas, psicológicas...
Tanto amor... nas noites que passo à beira da sua cama, velando seu sono, que às vezes demora a vir, e eu me pergunto: Por que se preocupar tanto, filho? Eu estou aqui, meu amor por você é incondicional e eterno, que mal pode lhe atingir?
E quando você finalmente pega no sono, eu confesso, continuo te olhando...
Tanto amor... quando o cerco de pessoas que, assim como eu, também o amam e cuidam de ti, com as minhas mãos.
Tanto amor... quando você rola um lance inteiro de escadas, não é, Aninha? Eu a ouvi chamando, viu? Muito antes daquela senhora verbalizar: Meu Deus! Na verdade, já estava contigo, fomos juntos pra lá, lembra?
E eu que a fiz tão branquinha, agra a vejo olhando para todos esses hematomas, tão roxos, grandes e doloridos... Eu sinto a sua dor, seu alívio ao receber cuidado, eu ouço suas marcas, porque sim, elas falam, falam de mim e do meu amor, e com tanto carinho, que meu coração se enche de alegria! Sim, meu amor, até mesmo seu corpo e sua dor me manifestam aos que estão ao seu redor.
Mas não se preocupe, estou cuidando de ti, logo, tudo isso passa e você verá, estará muito mais forte e próxima de mim quando tudo isso acabar.
O amor... o amor sempre deixa suas marcas. Algumas, tão profundas, que resistem até mesmo à morte.
Lembro-me tão nitidamente daquela tarde. Daquela tarde em que meu coração de pai foi partido. Era tanta dor, que ainda hoje um arrepio percorre meu corpo quando me lembro.
Meu filho morria pregado numa cruz. Meu amor por você deixava em suas mãos marcas eternas. Tomé, aquele incredulozinho a quem amo, que o diga, quis tocá-las, quando já vivo novamente Le o encontrou.
Eu sofri tanto aquela tarde, meu coração apertava a cada chicotada e humilhações que ele sofria, porque cada uma delas me lembrava o quão longe você se encontrava de mim.
Tanta dor! Tanta, que meu filho chegou apensar que eu o tivesse abandonado... Eu o sacrificava por amor a você!
Quantas vezes você também pensa que eu o abandonei, que me esqueci, que simplesmente não o amo... e que dor isso me causa!
Talvez você me veja como um Deus distante, indiferente, mas, meu amado, eu estava naquela cruz me deixando morrer única e exclusivamente por amor a você. E só ressurgi depois de três dias, vencendo a morte, pra te provar que esse meu amor por ti é eterno!
Ei, não tem aas dores, não as maldiga. Não tema o futuro, que eu o estou tecendo pra você e, você sabe, adoro surpreendê-lo, sempre positivamente.
Não tema nem mesmo seus medos ou dúvidas, eu os compreendo e ajudo a superar, afinal, desejo que sejamos cada vez mais íntimos.
Apenas, confie em mim, como quando era criança, lembra? Sua mãe ia até seu quarto e orava com você. Ah, que bonitinho ouvi-lo repetir suas palavras. Que maravilhoso senti-las sinceras, e depois ouvir seu coraçãozinho bater tranqüilo e velar seu sono de criança, pesado e repleto de sonhos. Lembra?
Então, é só confiar em mim. Eu não prometo evitar todas as suas dores, mas lhe garanto que estarei ao seu lado para ajudá-lo a passar por elas.
E quando você finalmente parar de chorar, eu sei, vai abrir aquele sorriso lindo, que eu mesmo idealizei antes que nascesse.
E quando seus olhos, tão viciados em imagens tão torpes, lavarem-se na minha água, ah... você me verá!
E quando seus ouvidos finalmente se desfizerem da cera desse mundo e das vozes descrentes à sua volta, eu sei, você vai me ouvir dizendo: Filho, eu te amo!
E enfim, você saberá que isso basta.