As bonecas... as fazia de papel pra minhas idéias ainda disformes,
Mas já insanas.
E que papel macio...
A caneta deslizava louca,
Pela borracha cheirosa.
Riscava tanto e com tanto gosto,
Como nem Camões fizera ao escrever “Os Lusíadas”.
Podia mesmo passar horas assim,
Entretida nesse lúdico exercício de menina-escritora.
É de pequena também
Que minhas palavras assustam,
Qual era a reação dos maiores ao verem minhas bonecas,
Com suas faces, antes róseas e delicadas,
Agora tomadas pelo multicolorido feroz de meus traços...
Hoje, desvencilhada das bonecas,
É o papel quem sofre a violência esdrúxula de meus traços
E ainda são muitos os que se escandalizam com eles.
Coitados... Ignoram por completo o fato, aparentemente claro,
De que sou só uma menina, uma menina crescida, que ainda brinca com as palavras...