quarta-feira, 22 de outubro de 2008

versinho instantâneo

"EU?

EU FAÇO RUSGAS

PRAS RUGAS DO TEMPO"

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

HOJE



Hoje, quando acordei
Tive uma grata constatação
(seria desonesto chamá-la surpresa)

Da janela do meu quarto,
Dos vãos abertos na madeira,
Vinham raios de sol,
Vivos, alegres,
Pareciam ter sido convidados por Deus
a dizerem-me "Bom dia!",
com sua linguagem esdrúxula,
brincando de passear no meu rosto.

Mais que isto,
Eram eles mensageiros benditos
Das novas de lá de fora,
Ainda que com essa sua linguagem metafórica,
Me anunciavam, calados,
Que o sol estava lá, no seu devido lugar,
Cumprindo prazerosamente,
Seu exercício diário de pontualidade e benevolência.

O sol, lindo sol,
Poderoso,
Recebi-o como a um amante,
Ele que aquece todas as peles...
E agradeci, comovida, a seu Criador.

O sol, os carros, a fumaça,
As pessoas...
Tudo, absolutamente tudo
No seu devido lugar,
Todas as coisas convidando-me também
A tomar meu lugar nesse grandioso espetáculo
chamado: VIDA.

Não resisti,
Tamanha era a graça dos lábios,
que balbuciavam o convite,
E sorri, iluminando meus olhos e meu redor,
E segui, agradecida,
Espalhando milhões de sorrisos e "Bons dias!"

O porquê

Porque Ele é bom,
por isso agardeço.

Porque Seus caminhos são retos,
ainda que sugiram ter Ele os escrito em linhas tortas.

Seus desígnios, maravilhosamente insondáveis,
e toda essa misericórdia, que dura para sempre...

Porque Ele é justo,
e nada, nem ninguém escapam ao seu sábio julgamento,
Ele faz justiça como nunca nenhum de nós experimentou,
Juiz incorruptível,
Como Ele, outro não há.

Porque Ele é amor,
prova disto é ter-se feito carne por nós,
é ter-se deixado matar por nós,
Sofrendo assim, morte horrenda...

Porque Ele é Deus,
e esta certeza é tudo quanto me basta,
a mim que sou pequeno e insignificante,
rastro de pó e podridão.

Porque Ele é o meu Deus,
e há amor, e não egoísmo, no uso desse pronome possessivo.

É Ele quem me ama, livra, guarda,
sustenta, direciona, ajuda.

Meu orgulho é afirmar que dependo dEle,
e dEle dependerei por todos os duas da minha vida.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Professores


Os maiores subversivos da História

Ou meios de manutenção da ordem imposta?

Eternos inconformados ou formadores de conformistas?

E o que eles professam, afinal?

Sobre seus ombros pesa toda responsabilidade insana

Que lhe legaram injustamente

De transformar todo o estado das coisas.

E para convencê-lo da honra que seja cumprir tal missão,

Quase sempre procuram bajulá-lo hipocritamente,

Com títulos e adjetivos,

Que não condizem em nada com a vocação sincera de sua alma.

Chamam-lhe mestre,

Afirmam veementemente que seu ofício é na verdade um sacerdócio...

Quanto absurdo!

E pensam mesmo as massas que o professor é isso:

Quase que uma visão metafórica,

Um ser débil, que precisa constantemente ser reanimado

Por novas e velhas mentiras,

Logo ele, que odeia as unanimidades burras,

E caminha sempre e solitário rumo à verdade.

Querem canonizá-lo,

Fazendo-o assim refém de suas fraquezas.

Sim, o professor é um ser humano,

Ainda que o neguem tanto o Estado,

E por vezes ele próprio,

Agindo com pretensão desmedida e, diria eu, masoquista.

Mas é também, ou o são apenas os autênticos,

Seres inquietos, desejosos de mudanças,

Urgentes e necessárias.

A começar pelo tratamento que a sociedade tem lhe dado,

O mesmo que ela oferece aos seus santos bastardos:

A grandiosidade reverente dos títulos sacro-santos,

E o sacrilégio das esmolas furtadas, ainda que diante de sua imagem.

Sem se falar nas atrocidades cometidas,

Por amor e em seu nome.

Basta!

O professor não é nada disso,

que os autorezinhos medíocres de livros de auto-ajuda propagam impiedosamente,

Nem tão pouco os heróis dessa nação inculta.

O professor é a tentativa diária da resistência,

Já que diariamente tentam aniquilá-lo,

Com investidas cruéis para promover a segregação da classe,

Ou simples “cala-boca”, quando diante do horror da greve...

Mas resta saber:

Seria ele tão nocivo assim?

Se não o for, certamente que não será digno de chamar-se PROFESSOR.

domingo, 12 de outubro de 2008

NOITE


Havia ainda no ar uma aura de poesia e inquietação deixada pela exibição dos curtas, parte da programação do Cardápio Underground. Caminhava em direção à praça central, em passos adolescentes, o vento impetuoso contra o rosto, all star nos pés, e a sensação de que o mundo ainda me pertencia, com toda sua poesia e mazelas. Havia um certo poder em reconhecer essa verdade.

Entre uma conversa esparsa e outra, meus pensamentos me conduziam a reflexões interessantes, havia, milagrosamente retomado essa minha faculdade, e sentia-me viva novamente. Talvez a sensação cortante do frio (havia saído de casa sem agasalho) contribuísse para potencializar todas essas sensações. Estava viva, eu e meus devaneios todos, até bem pouco tempo adormecidos, agora, despertos novamente.

O caminho já conhecido parecia ganhar também novos ares, novos eram os velhos pés que se deixavam conduzir por ele. E seguíamos, eu, meus pensamentos, alguns amigos e a noite que se estendia no céu feito lona de circo pobre, remendada de estrelas. O frio passando pelos vãos do remendo inútil.

Quatorze graus, era o que o termômetro da praça marcava solene. Minha particular sensação térmica beirava os quatro. Pausa pra um cachorro quente, estrategicamente localizado em frente ao antigo cinema. E como ainda me dói o acréscimo dessa palavra “antigo”... Porque ela soa vazia, melancólica, quase fúnebre. Estranha a sensação de ver aquele prédio desprovido de significado. Um esqueleto apenas daquilo que um dia representou. Quase como a impressão que deixa um teatro vazio depois de uma apresentação calorosa. Resta sempre muito vazio e alguns questionamentos... Ainda mais porque acabara de assistir a um curta, em que seu antigo proprietário falava, nitidamente emocionado sobre a perda...

Conversas esparsas, e uma em especial. Estávamos em roda, planejando ir embora, quando uma figura aproximou-se. Um hippie, com aquela leveza que só os hippies têm, aquele ar despreocupado e ao mesmo tempo grave, quando citando “problemas”. Trazia nas mãos alguns colares e nos lábios uma vontade imensa de convencer-nos a comprá-los. Prosa interessante a do homem, que olhava nos olhos, e falava e cantava Raul ali, em frente ao antigo cinema e a barraquinha de cachorro quente. De uma sinceridade vivaz, impressionante em dias de hipocrisia como os nossos. Justificou a necessidade da venda, utilizando-a e convenceu. Havia nele, pude notar, uma tristeza camuflada pelo descaso pelas coisas graves e quaisquer regulamentos sociais, havia a urgência de viver confrontada pela dor de existir.

Em mim, havia ainda e agora mais pungente, a poesia despertada por meio do programa cultural e pela presença inusitada do tal senhor, distinto senhor, o hippie, de quem não soubemos nem mesmo o nome.

Detalhe menor, insignificante, diante da urgência da vida diante das investidas da morte...

E a noite, agora lona ao vento, Ventania, o céu rasgado anunciando tempestades de poesia e vida e morte.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A Bibliotecária



Estava lá, não por qualquer aptidão,
nem tão pouco por nutrir paixão pelos livros,
por conhecê-los ou cultivá-los como bons amantes que são,
mas por conveniência,
por ser a Biblioteca local de silêncio e ordem
e ter ela uma figura austera.

Aliás, isso sempre me inquietou,
o fato de serem as Bibliotecas locais de silêncio e ordem,
quando na realidade, deveriam ser reduto escandaloso
de vozes alteradas, idéias, discussões...

Ordem?
Qual seria o critério estabelecido por ela?
Autor? Assunto? Título da obra?
...
Talvez fosse mais fácil responder a qualquer
grave questionamento filosófico-existencial...

Não havia ordem alguma ali,
nenhuma que se respeitasse,
fosse por coação ou prazer.

Nem mesmo a caduca ordenança: LEIA MAIS!
ali tinha espaço,
dada a rigidez da Bibliotecária e
seu esmero por manter muitos longe dos livros.

Só mesmo os mais persistentes
chegavam ao êxtase de tê-los nas mãos,
levá-los para casa nas mochilas...
Fiéis ao deleite de ler,
resistiam bravamente às escusas da distinta Sra.:
- Esqueci a chave hoje...

Invejei aquela mulher por algum tempo,
Mas só até chegar a manifestar por ela outro sentimento,
feio sentimento: pena!

A princípio, a invejava por viver ela cercada dos tais amantes,
Mais tarde, senti dela pena, em função de sua indiferença para com os mesmos,
seu descaso, sua quase aversão.

Cercada por Drummond, e Pessoa, e Quintana, e Rubem Braga,
e Machado, e Rosa, e Suassuna, e Quino,
Mas, não, ela jamais chegaria à estirpe de Mafalda.

Pobre mulher, estranha mulher,
cercada de amantes,
não sabia nutrir por eles nenhum amor.

Queria apenas manter a ordem ( a das estantes),
mal sabia de sua valiosa ocntribuição para a manutenção da outra...