quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

NOITE DE NATAL


Era noite de Natal, e eu pensava em escrever algo breve e impactante, um poema comovente, arrebatador.

Sozinha em meu quarto, a janela entreaberta, dezembro calorento, eu pensava, pensava, e contudo as palavras todas pareciam arredias ao meu convite...

Na casa ao lado, os vizinhos comemoravam o nascimento de Cristo brigando com o cachorro, aos gritos, só superados pelo volume histérico e indecente da “música” que ouviam.

Em minha mente, soava grave e passional: “Adete fideles”... E toda aquela atmosfera esquizofrênica ao lado, me levava a refletir sobre esta noite especial.

“Você não vai tomar cerveja?”; “Bebo sem me prejudicar...”; “Você que falou que quer ver eu ruim..” Esse diálogo, vez por outra, desviava minha atenção. Mas havia a necessidade de concentrar-me em meu intento: Escrever sobre o Natal.

Mas que ritmo ou esquema de rimas resistiria àquela barulheira desordenada, a que atualmente convencionou-se chamar música?

Não escrevi nada, contudo, tenho ainda um poema todo estruturado em minha mente, lindo, passional, tal como havia idealizado e descrito nas primeiras linhas desse desatino literário natalino.

Curiosamente, ele não se fez escrever com palavras. Cada verso seu, arrebatador, é uma imagem. Cada verso, uma pessoa.

Confesso que ele não é longo, pois detive-me a esquadrinhar somente as realmente relevantes. E como elas se encaixam, rimando umas com as outras, nas tramas de meu poema-vida...

E de quanta ternura foi que se fez esse poema, porque de cada um dos rostos que me são caros, retirei apenas sorrisos, sugando o que de melhor havia de seus donos, só...

E fiquei só, mesmo com o esplendor desse poema personificado... Só e pensativa... Feliz e triste, saudosa por aquilo que não foi...

Só, falei com Deus. (Me encanta a idéia de dividir com Ele tudo aquilo que já sabe de antemão).

Só, pensei ainda mais um pouco... E adormeci, apesar da persistência da poluição sonora ao lado, apesar de todos os meus medos, da rua, que insistia com seus barulhos e toda sua gente que desconhece o verdadeiro significado dessa data...

Adormeci em paz, na paz de que deveria estar gozando o amado aniversariante, há milênios, numa fétida estrebaria, em Belém.

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