quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O Reino Numeral

Ouço notícias da Palestina,
E meus ouvidos, pouco receptivos a notícias,
Ainda assim se escandalizam de dor.

As pessoas são números estatísticos
E isso me agride bastante,
Porque os números sempre me causaram sensação de distanciamento e frieza.

Porque os números...
Os números não nutrem esperanças,
Nem são dotados deste músculo essencial chamado coração.

Não, os números não se despedem daqueles a quem amam,
Com beijos, ao sair, logo pela manhã.

Não, eles também não temem a incerteza do retorno seguro ao lar,
Eles não ouvem o "tchau" dos filhos,
Com aquele amável grito estridente,
Que só as crianças sabem emitir.

Os números... Os números não amam,
Os números não odeiam.

Não se personificam,
Nem tão pouco os seres humanos por eles representados
Podem regredir, vergonhosamente a esse seu estado numeral...
Isto jamais!
Porque, ainda que sejam infindos,
Neles jamais caberiam todos os sonhos,
Medos, alegrias, angústias e desejos
Que acalentaram, aqueles de quem o estado numeral decreta,
solenemente, nos telejornais burros,
a morte.

Talvez a morte seja mesmo,
Ao menos para os mais insensíveis,
O triunfo dos números,
A instauração do Reino Numeral...

A estrela e a cruz...

Eu, particularmente, as inverteria em minha lápide,
Que a vida, às vezes é fardo,
Enquanto que o morrer é alento de felicidade eterna.

...

A caneta quase que se nega a registrar este último verso,
Contudo, há necessidade de encerrar esse poema com ele,
Ou, seria mais adequado, com ela,
Esta pergunta que se lhe apresenta assim,
Grave, fria e mortal:
- Quantos, quantos teriam morrido desde o início de sua escrita
até este desfecho esdrúxulo?
Quantos?

NÚMEROS...

Um comentário:

E. E. Dr. Fernando Amos Siriani disse...

Isso sem falar na mentira que está por trás desses números, que são muito, muito maiores que os divulgados.

Compartilho contigo a mesma tristeza... Que bom ter alguém que externa a dor que sentimos.