domingo, 20 de abril de 2008

Fogos e artifícios

Nesta cidade de fogos e artifícios,

Sem cinema,

O filme é sempre o mesmo,

Com o mesmo enredo insosso e repetitivo,

De um povo entorpecido,

Pelo muito circo e pouco pão.


E me enoja essa ansiedade toda

Por comemorar não sei o quê.

Festejar o quê?

Espera-se um ano todo,

Para confirmarmos nossa tendência à alienação.


E com que ânimo a confessamos,

A ponto de ser impensável sua inexistência,

Movidos que somos à distração...


Ânimo este que não se revela em outras situações,

Não, com essa intensidade toda,

Situações,que por graves e urgentes,

Demandariam todo nosso esforço coletivo.


E nada muda,

Até mesmo a crítica não muda de ares,

E ainda assim permanece válida e atual,

Validada pelo estado sempre imutável das coisas.


As coisas não vão bem...

Isso não importa,

Há uma festa lá fora,

Há multidões de risos e falso contentamento,

Há fogos e artifícios,

Há esquecimento e torpor,

Nessas luzes efêmeras.


Mas há também,

O fim de tudo,

O fim do esquecimento,

Que chega com o fim da festa,

Trazendo consigo o dilema de José:

- E agora?


Um comentário:

Érico Marin disse...

Você conseguiu captar de uma forma sarcástica a essência do brasileiro comum - afundado na lama e impressionado com os fogos de artifício, a pouca preocupação com assuntos mais sérios e a própria condição, a tendência a se divertir de qualquer maneira a fim de não ver o que o rodeia...

P.S. A ponte com Drummond foi inteligentíssima - tirou o José do contexto existencial dele para inserí-lo numa crítica social.