Nesta cidade de fogos e artifícios,
Sem cinema,
O filme é sempre o mesmo,
Com o mesmo enredo insosso e repetitivo,
De um povo entorpecido,
Pelo muito circo e pouco pão.
E me enoja essa ansiedade toda
Por comemorar não sei o quê.
Festejar o quê?
Espera-se um ano todo,
Para confirmarmos nossa tendência à alienação.
E com que ânimo a confessamos,
A ponto de ser impensável sua inexistência,
Movidos que somos à distração...
Ânimo este que não se revela em outras situações,
Não, com essa intensidade toda,
Situações,que por graves e urgentes,
Demandariam todo nosso esforço coletivo.
E nada muda,
Até mesmo a crítica não muda de ares,
E ainda assim permanece válida e atual,
Validada pelo estado sempre imutável das coisas.
As coisas não vão bem...
Isso não importa,
Há uma festa lá fora,
Há multidões de risos e falso contentamento,
Há fogos e artifícios,
Há esquecimento e torpor,
Nessas luzes efêmeras.
Mas há também,
O fim de tudo,
O fim do esquecimento,
Que chega com o fim da festa,
Trazendo consigo o dilema de José:
- E agora?
Um comentário:
Você conseguiu captar de uma forma sarcástica a essência do brasileiro comum - afundado na lama e impressionado com os fogos de artifício, a pouca preocupação com assuntos mais sérios e a própria condição, a tendência a se divertir de qualquer maneira a fim de não ver o que o rodeia...
P.S. A ponte com Drummond foi inteligentíssima - tirou o José do contexto existencial dele para inserí-lo numa crítica social.
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