quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A Bibliotecária



Estava lá, não por qualquer aptidão,
nem tão pouco por nutrir paixão pelos livros,
por conhecê-los ou cultivá-los como bons amantes que são,
mas por conveniência,
por ser a Biblioteca local de silêncio e ordem
e ter ela uma figura austera.

Aliás, isso sempre me inquietou,
o fato de serem as Bibliotecas locais de silêncio e ordem,
quando na realidade, deveriam ser reduto escandaloso
de vozes alteradas, idéias, discussões...

Ordem?
Qual seria o critério estabelecido por ela?
Autor? Assunto? Título da obra?
...
Talvez fosse mais fácil responder a qualquer
grave questionamento filosófico-existencial...

Não havia ordem alguma ali,
nenhuma que se respeitasse,
fosse por coação ou prazer.

Nem mesmo a caduca ordenança: LEIA MAIS!
ali tinha espaço,
dada a rigidez da Bibliotecária e
seu esmero por manter muitos longe dos livros.

Só mesmo os mais persistentes
chegavam ao êxtase de tê-los nas mãos,
levá-los para casa nas mochilas...
Fiéis ao deleite de ler,
resistiam bravamente às escusas da distinta Sra.:
- Esqueci a chave hoje...

Invejei aquela mulher por algum tempo,
Mas só até chegar a manifestar por ela outro sentimento,
feio sentimento: pena!

A princípio, a invejava por viver ela cercada dos tais amantes,
Mais tarde, senti dela pena, em função de sua indiferença para com os mesmos,
seu descaso, sua quase aversão.

Cercada por Drummond, e Pessoa, e Quintana, e Rubem Braga,
e Machado, e Rosa, e Suassuna, e Quino,
Mas, não, ela jamais chegaria à estirpe de Mafalda.

Pobre mulher, estranha mulher,
cercada de amantes,
não sabia nutrir por eles nenhum amor.

Queria apenas manter a ordem ( a das estantes),
mal sabia de sua valiosa ocntribuição para a manutenção da outra...

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