quinta-feira, 23 de julho de 2009

INSÔNIA


As pálpebras já pesam,
mas minha alma não quer se aquietar,
Ela é feito criança, que finge dormir pontual.

Receio que minha alma não durma nunca,
E não é a TV que a entretém,
nem os livros, nem a fuidez da rua,
Ela se entretém consigo mesma,
sempre irrequieta.

E mesmo quando as pálpebras se rendem,exaustas,
os olhos dela ainda abertos, brilham e escrevem poemas.

ESQUISITA


Eu só gosto de gente estranha,
Talvez porque estranhe o mundo e a mim mesma,
E o meu gostar é tão estranho quanto eu.

Se você consegue sentir o quee stou dizendo,
Sinta-se privilegiado,
Você pertence ao seleto grupo dos estranhos,
a quem amo estranhamente.

SEM MOTIVO

Às vezes, sinto uma dor tão aguda,
que me emudece,
tira o ar,
desespera,
e é quase sempre sem motivo.

É o parto da poesia,
que é de motivo nenhum que ela nasce,
pra finalidade nenhuma,
a não ser, amenizar a dor que sua latência causa ao poeta.

DESEJO

Quero
Manhãs de sol no meu rosto,
Tardes de chuva no meu corpo,
E noites de vento impetuoso na minha alma.

RED


Gosto do vermelho...
Nas unhas, nos lábios, na ideologia.

Ele contrasta bem com minha escassez de melanina
e conformismo.
Cansada do caminho difícil,
eu sigo.

Nunca me agradaram os atalhos.
Às vezes, é sem palavras que dele me aproximo,
O que dizer?
Do meu dia, dos meus medos, meus desejos?
Ele os conhece todos,
Ele sabe que tudo quanto preciso é de seu colo,
Mas ainda sim, feito criança saliente,
me atrevo e peço:
- Deus, me deixa, só essa noite, dormir em seus braços?

MENTIRA

Ouvi certa vez que os irônicos são farcos,
Fraqueza bendita essa, que põe nos lábios a palavra contrária,
entregando ao ouvinte a significação original.

Franqueza, isso sim, revestida de humor.

O único problema é que, nós, irônicos, nunca somos levados muito a sério,
Porque há palavras anti-ironia,
e eu as temo.

Não se pode ser irônico no amor, tenho aprendido...
É erro maior que ser leviano.

Não se pode ser fraco, nem franco no amor,
porque ele é uma mentira,
e só a muito custo e força é que se o leva em frente.

CARNE

Escrevo como um prisioneiro
A quem foi dado o privilégio de escrever sua última carta,
Desesperadamente,
Sem nexo e com vontade,
Com a precisão estranha que nasce da necessidade.

Porque pra mim, faz-se urgente escrever e isso me inquieta profundamente.

É quando então falo dos sonhos que tive,
Daqueles que ainda alimento,
Do meu idealismo besta,
Do meu amor mal compreendido e do meu ódio.

Das coisas que me faltam e do silêncio dessa ausência.

E é como se minha própria carne estivesse ali exposta,
Nua, frente a olhares dos mais variados.

Isso me constrange e me anula,
Porque e apesar de tudo,
Não, não sou minhas palavras,
E minha carne é muito mais tenra
Que um pedaço de papel.