sexta-feira, 14 de março de 2008

TARSILA


O abuso capitalista no preço d'água
O sol que convidava à sombra
E a fila, a fila interminável e injusta.

As expectativas cedendo lugar ao cansaço,
O cansaço, A arte separada de nós por um mar de gente,
Gente pequena e gente grande,
Ansiosa por ver chegar o fim da fila E o início de Tarsila.

Depois de horas sob sol e chuva,
O frescor das salas de Tarsila,
Com seus multicoloridos quadros,
Conservados com o cuidado artificial do ar condicionado.
Quase um choque térmico!

O Abaporu erguendo-se altivo, bem à frente de nossos olhos.
Grande, real, parecia saltar da tela,
na ânsia de matar sua fome de gente.
As cidadezinhas todas,
com sua flora esverdeada e cidadãos pacatos.

Retratos do Brasil, verdes, amarelos, azuis, róseos.
E todos os seus inúmeros bichos antropofágicos,
surgindo do verde, assustando os mais desavisados...

A longa espera parece ter valido a pena:
Encontramos Tarsila em cada uma das telas,
Nos reencontramos com o Brasil.

Um comentário:

Érico Marin disse...

Ana, seu poema me pareceu pintura... Extremamente visual, colorido; sensações descritas por nuances; palavras vestidas de traços, pinceladas; o espaço verbal assumindo a forma de tela, acomodado em uma moldura onde é possível se reconhecer o Brasil... As pinturas de Tarsila pintadas pelas suas palavras. Parabéns!