Quero a cadência esquizofrênica das horas,
Que separam o condenado da aplicação da sentença final.
O brilho dos olhos dos movidos por paixões,
Mas só por aquelas necessárias à própria existência.
A coragem estúpida dos mártires...
Seu sangue regando as flores do meu quintal.
O sol impetuoso, que costuma vir depois da chuva.
Seu ardor ferindo as peles mais sensíveis.
O rubor nas faces daqueles,
A quem ainda resta algum pudor.
O choro mais agudo e os sorrisos mais amáveis.
As meias verdades todas juntas novamente,
Par a par, após milagrosa intervenção do caráter.
Um poema, que de tão verossímil,
Possa ser vivido,
Com todas as suas metáforas feitas realidade.
Meus mortos todos ressurretos,
Abandonando o relicário da mortalha das lembranças,
Avançando calmamente em minha direção, com passos seguros.
Trazendo nas mãos os manuscritos dos poemas, que lhes dediquei,
E nos lábios, seu recitar alegre.
A inconstância da existência nômade,
O habitar muitas almas...
A sede de justiça saciada,
Pelas muitas águas da igualdade,
Saboreadas em taças do mais fino cristal,
Onde até o brindar é cauteloso.
A miséria feita abundância,
Nos pratos transbordantes da fome.
E o sono, que costuma vir sempre depois de tê-la saciado.
Os sonhos, absurdamente bons,
Que costumam povoar as mentes dos que não devem.
Não dever, nem ao menos cogitar dever,
Seja em espécie, dignidade ou satisfações.
Satisfazer-se com a poesia,
Que ela, de tão inútil, me basta!
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