segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Devaneios

As incertezas se multiplicam à medida que a fé sucumbe ao ceticismo,

As esperanças, necessárias, essas meninas travessas, cujos olhos verdes brilham sempre e mais que a própria luz, parecem desfalecer subnutridas, mas alimentadas que são pela nossa ração de mediocridade diária.

O tempo, rugindo feroz à nossa porta,

Nós restamos reféns impotentes em face à ameaça silenciosa da fera que nós mesmos concebemos.

Os sonhos, esse tecido multicolorido do qual reveste-se a alma, cada vez mais frágil, expondo-a às suscetibilidades da nudez em um mundo amoral.

Os homens, cada vez menos humanos, já incapazes do amor.

O amor... Esse velho andarilho imundo, a quem quase ninguém se atreve a doar-se.

O fim, tão próximo quanto o estender de mãos, que promoverá o tão sonhado reencontro das incertezas com as esperanças, do tempo com os sonhos, e finalmente, do homem com o amor.

O juízo final a arrastar-se lenta e incessantemente junto dos ponteiros dos relógios,

A vida e a existência confrontando-se a cada segundo,

A morte, a cada segundo.

O abismo a estender-se imponente entre um vale de iluminadas flores roxas e uma cidade em chamas,

Um abismo de um passo, o suficiente para aproximar ou distanciar de uma vez por todas, a vida e a morte.

Anjos e potestades, castigo e redenção,

Enredos de uma canção tão antiga quanto verossímil.

E a morte, e a vida, e a existência, e o juízo final, e o fim, e o amor, e os homens, e os sonhos, e o tempo, as esperanças e as incertezas...

Fossem eles apenas substantivos, os encerraria na rigidez da Gramática,

Mas é como se os sentisse vivos,

Como se com eles tivesse de dividir o ar,

E contraditoriamente deles retirasse o fôlego e a razão da própria Vida.

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