sexta-feira, 23 de maio de 2008

Idas e voltas II


Ponto de ônibus, espera, mp4.
Pernas cruzadas, all star violeta, olhares curiosos, desdém.
Ao lado do ponto, uma banca de jornal,
A única da cidade.

Vento, vento forte,
Tanto que fez um de seus exemplares voar,
E que belo vôo fez,
Até que, exausto repousou lentamente sobre o chão de terra batida.

Foi aqui que pensei:
Vou pegá-lo e devolvê-lo à dona.

Pensei... tarde demais,
Antes que me levantasse,
O distinto senhor, que ocupava assento próximo ao meu, levantou-se,
Recolheu as folhas do periódico, ajeitando-as delicadamente,
E, para minha surpresa, começou a lê-las.

Entendi que passara então, a possui-las.
Decepção. Ainda lançara um olhar risonho em minha direção,
Como que tornando-me sua cúmplice... Eu era?

Voltei a concentrar-me na canção,
Um novo personagem entra em cena,
Procurava fones de ouvido, ali não havia para vender.
Começou a falar ao celular,
Minha indiscrição e curiosidade vorazes
Captaram toda a conversa,
Enquanto que minha sensibilidade deteve-se em sua parte final:
- Bênção, mãe!

Achei bonito.
Lembrei-me do modo como sempre me despeço da minha:
- Adiós!
Ao que ela responde:
- Vai com Deus e cuidado!
Às vezes retruco:
- Cuidado com o que, mãe?
("Viver nem não é muito perigoso?")

Não deixa de ser uma bênção.

E a música de novo interrompida,
Agora pela chegada do ônibus.

Novamente paisagens sucedendo-se na janela,
A solidão e a promessa de Sebastian.
Muitos anseios, pouca poesia.

Sigo viagem,
Alguém já disse que a vida é a estrada.
Sebastian ainda grita em meus ouvidos,
Eu o acompanho em pensamento,
Nota por nota, até onde posso alcançar.

E a vida segue com a estrada,
As duas se confundem,
A vida é só mesmice.

2 comentários:

Ana Raquel Fernandes disse...

Isso não é um poema... Também não é prosa. Talvez seja só um amontoado de palavras disconexas... mas precisava escrevê-las.

Anônimo disse...

eu conheço esse all star...