sexta-feira, 9 de maio de 2008

Metrópole

Queria ser a cidade,
Provocando a eterna ilusão,
De que seus transeuntes a possuem,
Quando, na verdade, é ela quem os possui e manipula.

Ter em minhas veias o tráfego insano da cidade,
Sentir seu ritmo alucinado
Borbulhar meu sangue.

Ter nos ouvidos os seus inúmeros falares,
Com todos os seus sotaques e armadilhas,
Sussurros, senhas e gritos de horror.

Na pele, as marcas da cidade,
Uma poluição visual sob a forma de tatuagem.
A violência permanente dos anúncios mais indecorosos,
Ferindo-me a derme.

Nos olhos, o multicolorido de sua miscigenação.

Nos cabelos, o pó da cidade,
Essa sua rudeza e hostilidade,
Que insitem em chamar por outros nomes.

Nas mãos, o controle absoluto
Sobre aqueles que passam,
Sem saber que ficam
Impregnados em mim.

Nos pés, muitos descaminhos,
A pressa, a urgência!
Há pressa e urgência na cidade.

Na alma, o vazio enorme
Gerado pela constatação óbvia:
A de estar só em meio à multidão,
Com uma única ressalva consoladora:
Eles 'pensam' me possuir...

Um comentário:

Érico Marin disse...

Você conseguiu transformar seus desejos em uma análise do que é a cidade... Este poema tem conteúdo social ou é um desabafo vestido de crítica?