sábado, 24 de maio de 2008

Indecible


Noite passada
Sonhei com uma palavra,
Acordei sorrindo.

Estranha palavra,
Tão estranha, que não sei pronunciá-la.
Palavra melindrosa,
Não se me mostrou por completo.

Palavra indizível,
Sem face.

Logo eu que gosto de olhar nos olhos das palavras,
Assim como faço com as pessoas,
A fim de adivinhar-lhes as intenções primeiras,
Escondidas sob o tênue véu das aparências...
Me decepcionei.

Não, não chegeuei a fitá-la,
Essa palavra misteriosa e arredia,
Não sei nem ao menos dizer-lhe a cor.

Sim, vejo cores nas palavras,
E peso e altura,
E o que dizer-lhe então da voz?

Tudo quanto meus ouvidos entorpecidos puderam captar
Era algo entre o grave e o melodioso.

Agradou-me ouvi-la,
Essa palavra que fala,
Sem mostrar a face.

Amanheci na louca tentativa de lembrar-me de suas formas,
Letras, sílabas...
Esforço vão!

Sonhei palavra indizível,
Singular, rara.

Dessas que, quando pronunciadas,
Enchem de vida todos os recantos da boca.
Palavra mágica,
Que me trouxe à lembrança trapos de felicidade e esperança,
Algum conforto, alívio, um quê de inocência,
Cuidado e amor despretensioso.

Talvez por isso,
E apesar de sua incógnita manifestação,
Tenha me restado uma única certeza:
Essa palavra,
Que agora passo a idolatrar,
Feito um nome divino,
Sem incorrer no pecado de maculá-lo, pronunciando-o,
É substantivo próprio.

Um comentário:

Flor disse...

Que texto lindo...

Vc quem o escreveu?